terça-feira, 16 de abril de 2013

Integrante da Comissão da Verdade sugere cautela em relatório final

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
MATHEUS LEITÃO
DE BRASÍLIA
Membro da Comissão Nacional da Verdade, José Paulo Cavalcanti afirma que o grupo deve ter "enorme cautela" ao citar em seu relatório final, a ser entregue em maio do ano que vem, os envolvidos nas mortes, desaparecimentos e torturas ocorridas na ditadura militar (1964-1985).
"Há questões que a gente vai ter que sentar para conversar com calma, como a identificação das pessoas. Deve-se ter enorme cautela nisso. Nem digo que não tenha nome. Quando houver nome para além de qualquer suspeita, tudo bem. Agora, nome por funções, é preciso ter cuidado, você arranha pessoas", disse à Folha.
Ele deu como exemplos peritos que produziram laudos falsos para dar aparência de morte em conflito ou suicídio a execuções feitas pelo regime. Segundo ele, ao menos parte desses laudos descreve evidências implausíveis.
Segundo ele, ao menos parte desses laudos descrevem evidências corporais implausíveis e por isso têm de ser entendidos como "recados para o futuro" sobre o que realmente ocorreu.
"Era como se eles estivessem dizendo para o futuro: 'Olha, esse sujeito não morreu disso aqui não'. Daí você vai fazer laudo dos 'peritos da ditadura', aqueles que coonestaram [deram aparência de verdadeiro a] laudos? Estou usando como cúmplices da tortura um sujeito que se arriscou. É tudo muito mais complexo."
A identificação dos responsáveis pelas violações é, para alguns especialistas, a maior contribuição que o colegiado nomeado pela presidente Dilma pode dar à narrativa do período, uma vez que boa parte das circunstâncias dos crimes --hoje anistiados-- já é conhecida.
Cavalcanti é criticado por colegas por ser ausente do grupo. O advogado do Recife nega e diz sacrificar-se para participar dos trabalhos.
"Eu acordo na segunda-feira, às 4h da manhã, para pegar um voo [para Brasília] às 5h30. Não recebo nada, estou ali por espírito público. Na volta há um voo às 15h02 da terça-feira e um às 23h10. O das 23h10 chega ao Recife perto das 2h. Só para você ver a cota de sacrifício."
Além da distância física de Brasília, afirmou, outra questão é conciliar sua vida profissional com as atividades da comissão. "E eu não sou aposentado. A presidenta não escolheu aposentado, escolheu advogado que tem escritório aqui [em Recife]."
Falando sobre os objetivos da comissão, ele disse que o grupo brasileiro é diferente de todos os outros congêneres que já existiram no mundo, pois aqui a conciliação nacional já foi feita.
"Aqui, bem ou má, já está feita a transição. Amanhã [ano que vem] para nós vai ser 50 anos da revolução [golpe de 1964], 40 anos do período mais duro da repressão."

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