Família, que contesta versão oficial de tiroteio, quer saber se restos mortais são mesmo de Alex Xavier Pereira
Fonte: O GLOBO.COM
- RIO — O Ministério Público Federal (MPF) e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência vão exumar na próxima terça-feira, no Rio, o que seriam os restos mortais do guerrilheiro Alex de Paula Xavier Pereira, morto aos 22 anos pelo DOI-Codi de São Paulo, em 1972. O objetivo é confirmar se a ossada que está no cemitério de Inhaúma, na Zona Norte, pertence ao militante e ex-aluno do Colégio Pedro II. A informação foi publicada ontem na coluna do jornalista Ancelmo Gois no GLOBO.
- Segundo o procurador da República Sérgio Suiama, existem 180 investigações em curso no MPF para apurar crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). Entre eles, estão incluídos execuções, sequestros e ocultação de cadáveres. Desse total, 120 inquéritos tratam apenas de casos ocorridos no Rio.— Caso não seja confirmada a identificação de Alex pelo exame de DNA, vamos continuar investigando. Queremos punir os responsáveis por ocultação de cadáver — afirma Suiama.Nos registros oficiais, a morte de Alex teria ocorrido em 20 de janeiro de 1972 durante tiroteio após um acidente de carro próximo à Avenida República do Líbano, em São Paulo. No veículo, estava outro guerrilheiro, Gelson Reicher, também assassinado. A família de Alex não crê na versão da troca de tiros. O guerrilheiro, ao morrer, militava na Ação Libertadora Nacional (ALN).Alex foi enterrado como indigente, com o nome de João Maria de Freitas no Cemitério Dom Bosco, no bairro Perus, em São Paulo. O local era utilizado para enterrar vítimas do regime. Oito anos depois, uma ossada foi transferida para Inhaúma como sendo a do militante. A identidade de Alex, porém, nunca foi confirmada.O pedido de exumação foi feito pela irmã de Alex, Iara Xavier Pereira, de 61 anos, que retornou ao Brasil em 1979 após o exílio. Desde então, ela procura pelo corpo do irmão. A família de Iara militou no PCB e depois na ALN. À época, Iara perdeu outro irmão: Iuri Xavier Pereira, cujos restos mortais foram identificados.— Quando o Alex morreu, não podíamos ir atrás do corpo porque tínhamos medo de ser presos. Em 1996, identificamos o Iuri. São 33 anos sem resposta sobre o Alex. Todo cidadão tem o direito de sepultar os seus mortos. Estamos correndo atrás das provas. Minha mãe vai fazer 88 anos. Meu pai já morreu. É uma luta sem fim — desabafa Iara.Peritos da Polícia Federal vão participar da operaçãoA coleta de material dos restos mortais que podem identificar Alex de Paula Xavier Pereira será realizada numa operação conjunta entre peritos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal e o procurador da República, Sérgio Suiama. Gilles Gomes, coordenador-geral da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, órgão subordinado à Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência, também fará parte da equipe que irá ao cemitério de Inhaúma na terça-feira.— Não sabemos em que condições vamos encontrar os restos mortais. Somente a partir daí, teremos um prazo para divulgar o resultado, confirmando ou não como sendo do Alex — ressaltou Gilles Gomes.De acordo com o coordenador-geral da comissão, o pedido de exumação de restos mortais feito pela família de Alex Xavier Pereira, por meio do Ministério Público Federal, foi o primeiro a chegar ao órgão.— Todos os requerimentos que foram apresentados têm pedidos de localização de corpos, mas a maioria referente à Guerrilha do Araguaia. Para exumação é o primeiro — ressaltou Gilles Gomes.
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