MATHEUS LEITÃO
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Membro da Comissão Nacional da Verdade, José Paulo Cavalcanti afirma que o grupo deve ter "enorme cautela" ao citar em seu relatório final, a ser entregue em maio do ano que vem, os envolvidos nas mortes, desaparecimentos e torturas ocorridas na ditadura militar (1964-1985).
"Há questões que a gente vai ter que sentar para conversar com calma, como a identificação das pessoas. Deve-se ter enorme cautela nisso. Nem digo que não tenha nome. Quando houver nome para além de qualquer suspeita, tudo bem. Agora, nome por funções, é preciso ter cuidado, você arranha pessoas", disse à Folha.
Ele deu como exemplos peritos que produziram laudos falsos para dar aparência de morte em conflito ou suicídio a execuções feitas pelo regime. Segundo ele, ao menos parte desses laudos descreve evidências implausíveis.
Segundo ele, ao menos parte desses laudos descrevem evidências corporais implausíveis e por isso têm de ser entendidos como "recados para o futuro" sobre o que realmente ocorreu.
"Era como se eles estivessem dizendo para o futuro: 'Olha, esse sujeito não morreu disso aqui não'. Daí você vai fazer laudo dos 'peritos da ditadura', aqueles que coonestaram [deram aparência de verdadeiro a] laudos? Estou usando como cúmplices da tortura um sujeito que se arriscou. É tudo muito mais complexo."
A identificação dos responsáveis pelas violações é, para alguns especialistas, a maior contribuição que o colegiado nomeado pela presidente Dilma pode dar à narrativa do período, uma vez que boa parte das circunstâncias dos crimes --hoje anistiados-- já é conhecida.
Cavalcanti é criticado por colegas por ser ausente do grupo. O advogado do Recife nega e diz sacrificar-se para participar dos trabalhos.
"Eu acordo na segunda-feira, às 4h da manhã, para pegar um voo [para Brasília] às 5h30. Não recebo nada, estou ali por espírito público. Na volta há um voo às 15h02 da terça-feira e um às 23h10. O das 23h10 chega ao Recife perto das 2h. Só para você ver a cota de sacrifício."
Além da distância física de Brasília, afirmou, outra questão é conciliar sua vida profissional com as atividades da comissão. "E eu não sou aposentado. A presidenta não escolheu aposentado, escolheu advogado que tem escritório aqui [em Recife]."
Falando sobre os objetivos da comissão, ele disse que o grupo brasileiro é diferente de todos os outros congêneres que já existiram no mundo, pois aqui a conciliação nacional já foi feita.
"Aqui, bem ou má, já está feita a transição. Amanhã [ano que vem] para nós vai ser 50 anos da revolução [golpe de 1964], 40 anos do período mais duro da repressão."
Nenhum comentário:
Postar um comentário