sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

CARTA DE CARLOS EUGENIO CLEMENTE

Caros companheiros,

O comandante da Ação Libertadora Nacional - ALN, Aldo de Sá Brito Souza Neto, que chamo em meus livros (Viagem à Luta Armada e Nas Trilhas da ALN) de Poeta, participou,
desde o ano de 1966 da preparação e montagem de uma equipe de fogo no Rio de Janeiro, junto com Alex de Paula Xavier Pereira, Iuri Xavier Pereira, Luiz José da Cunha, Luiz Afonso Miranda Rodrigues, Marcos Nonato da Fonseca, todos assassinados pela ditadura, eu e outros companheiros sobreviventes.
Sob o comando de Carlos Marighella e Zilda de Paula Xavier Pereira, mãe de Iuri e Alex,
conseguimos nosso intento e atuamos durante anos. Nossa equipe de fogo atuou intensamente e ninguém abandonou a luta.No final de 1970, a Coordenação Nacional da ALN propôs ao nosso querido Aldo que viesse a São Paulo, onde eu e Iuri já nos encontrávamos, para conversarmos sobre sua vinda para essa cidade ou a ida para Belo Horizonte, por estar muito queimado e procurado no Rio de Janeiro.Eu e Iuri fomos encarregados de falar com Aldo e discutir essa proposta. Aldo preferiu ir para Belo Horizonte e assim foi feito. Enviamos Aldo, Marcos Nonato e um companheiro de São Paulo, Manoel José de Abreu para lá, com a tarefa de, junto com companheiros de Belo Horizonte, desenvolver o trabalho armado naquela cidade. O comando do trabalho foi dado a Aldo, por sua experiência e firmeza.Numa ação de expropriação no dia 06 de janeiro de 1971, foram surpreendidos pela repressão e travaram tiroteio durante a fuga. Num momento dado a repressão conseguiu cercar os companheiros. Tentando furar o cerco os companheiros acabaram se separando de Aldo que correu para um prédio, enquanto os outros foram para outro lado.

Manoel e Marcos, junto com mais dois outros conseguiram escapar aos tiros e Aldo foi cercado no prédio. Invadiu um apartamento e pulou do primeiro andar para escapar pelos fundos. Infelizmente quebrou o tornozelo e, não podendo andar e menos ainda correr, enfrentou a polícia a bala, mas foi preso.Torturado (para a tortura não precisamos de adjetivos), resistiu bravamente e não deu nenhuma informação à repressão. E tinha muita coisa para dar, por se tratar de um comandante. Ninguém caiu por causa dele e nenhum aparelho foi encontrado pela repressão. Eu e Iuri tínhamos ponto de encontro com ele no dia seguinte em São Paulo, para fazer o balanço da ação e apareceram Marcos e Manoel. O ponto não foi entregue, como nada que ele conhecia.Aldo foi torturado até a morte e foi comprovado pela família (Aldo era sobrinho-neto do então cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara) o uso da "coroa de Cristo", anel de aço que apertava a cabeça enfiando pinos no crânio, esmagando a cabeça.
Aldo de Sá Brito é um herói do povo brasileiro e seu nome será lembrado pelas gerações futuras, quando sua luta for contada nos livros de História do Brasil.
Infelizmente suas lindas poesias, após sua morte, foram queimadas pela família com medo (medo esse legítimode complicações com a repressão.

Sustento essas informações diante de todos.

Um abraço,Carlos Eugênio Clemente

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