Senhores
Comissários,
Nós,
familiares de mortos e desaparecidos políticos, ex-prisioneiros políticos,
entidades, movimentos de luta pela Verdade e Justiça, militantes dos direitos
humanos, e lutadores sociais, vimos externar nossa indignação com os graves
acontecimentos que envolvem a Comissão Nacional da Verdade.
Desde
o inicio dos trabalhos da CNV, cobramos a apresentação de um plano mínimo de
trabalho, com objetivos e metodologia definidos.
Enfatizamos
a necessidade de priorizar os mortos e desaparecidos políticos e a realização
de atividades, em especial as audiências, considerando os princípios da
publicidade e da transparência.
Consideramos
a necessidade e importância de convocar os agentes do estado responsáveis pelos
crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados.
Da
mesma forma, consideramos fundamentais as audiências públicas que tragam os
testemunhos das vitimas, familiares e sobreviventes.
Houve
momentos de entusiasmo de nossa parte, com os textos publicados por Cláudio
Fonteles, comprometidos com a busca da verdade em torno dos mortos e
desaparecidos políticos. Qual não foi nossa surpresa, quando vimos que essa
postura era duramente questionada por outros integrantes da CNV!
A
partir de então, temos assistido as divergências internas se transformarem em
ataques pessoais e públicos, numa triste demonstração de descompromisso com a
verdade e a história. Isso se reflete na falta de clareza do papel histórico da
CNV.
A
divulgação do relatório parcial da CNV demonstrou desconhecimento das
informações acumuladas, ao longo de mais de 40 anos, pelos familiares e
historiadores.
A
existência da CNV, fruto das lutas dos familiares de mortos e desaparecidos
políticos e militantes dos direitos humanos, significa mais do que uma
necessidade, é um momento impar da história de nosso país, quando ainda poderá
ser construída a verdade com a participação dos últimos sobreviventes - testemunhos
oculares dos fatos.
Apelamos
para a consciência cidadã de cada um dos membros desta Comissão e propomos:
1. A imediata recomposição desta
Comissão, com a volta de Cláudio Fonteles, a substituição de Gilson Dipp e a
garantia de que todos os integrantes estejam voltados realmente para os
trabalhos da CNV, e que estejam ainda comprometidos
não apenas com o Direito à Verdade, Memória e Justiça, mas também com a
concepção de Comissão que trabalhe com e para a sociedade, entendendo que o
processo é tão importante quanto o relatório final;
2. Que a CNV intensifique as audiências
públicas, devidamente organizadas, convocando agentes do Estado envolvidos nas
graves violações aos direitos humanos, bem como as testemunhas - vítimas,
familiares, sobreviventes;
3. Que o foco das investigações da CNV
seja o esclarecimento dos casos dos mortos e desaparecidos políticos, motivo
esse que levou à criação e constituição da CNV;
4. Que a CNV se transforme num coletivo,
forte o suficiente para garantir a abertura total dos arquivos militares.
Por
fim, entendemos que o resgate
da verdade não se restringe à elaboração de um Relatório Final pela Comissão
Nacional da Verdade, mas sim, é o produto de trabalho coletivo que depende de
interação com as diversas formas de organização e expressão da sociedade civil.
Por isso, os signatários desta carta apresentam propostas e se solidarizam com
o Dr. Claudio Fonteles, que, no seu período à frente da Comissão Nacional da
Verdade, sinalizou o caminho a ser trilhado. Manifestamos também nossa total
solidariedade a atual coordenadora Rosa Cardoso, que se identifica com nossas
propostas e tem buscado o diálogo e a participação da sociedade.
“A única luta que se
perde é a que se abandona.”
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