quarta-feira, 11 de setembro de 2013

REFLEXÃO SOBRE A AÇÃO NAS MANIFESTAÇÕES

Antes de mais nada, gostaria de me identificar, já que sou novo por estas terras. Meu nome é Victor, e sou militante do Levante Popular da Juventude.
Não sei se tem outras discussões de fundo, porque não conheço as pessoas envolvidas nela e não quero ser contra ninguém, só achei que essa é uma oportunidade muito boa de travarmos um debate, de forma companheira, já que me sinto diretamente envolvido, uma vez que sou um levantino e um dos nossos símbolos é, exatamente, um pano para cobrir o rosto (o "pañuelo"). 

Pois bem: pra mim é um tanto nova, para ser sincero, essa questão do black block. Esta ideia (que acho que começa a tomar a forma de um grupo, já que há certa articulação e preparação, mesmo que meio desarticulada) de atos "violentos", tomando sempre o cuidado de não confundir a violência do opressor com a reação do oprimido, como se diz, traz para nós, militantes, uma série de reflexões interessantes. Acho que temos que ter em mente alguns pontos a se considerar:

1- quem está à frente destes protestos?
2- contra quem são dirigidos?
3- que tática usam? É eficiente, em relação ao objetivo? Massificam?

Acho que não são pessoas de direita, embora não ache que são pessoas com uma formação comunista "perfeita", o que não desclassifica, por si só, o movimento; lembremos que não podemos exigir extremo rigor científico de um  movimento que surge espontaneamente do povo, principalmente quando é de massas. Lembremos, para tanto, do MST, neste último caso. Mas lembremos que isto não nos permite abandoná-los à própria sorte (as jornadas de junho ainda devem estar bem frescas em nossa memória, não?). Há diversas opiniões sobre o que está surgindo, em relação também aos anonnymous. Mas quem é anonnymous? Quem é black block? Todas/os nós, e nenhum(a) de nós. Basta colocar uma máscara e pronto: somos anonnymous/black block. Ou seja: são movimentos em disputa - e a direita sabe disso, e os está disputando, principalmente o primeiro.

Embasar a opinião em lei, não acho que seja o caso - antes, tira totalmente o foco da discussão. Lei é aquilo que a classe dominante quer que seja. O AI-5 era lei. A morte de judeus pelo nazismo era. Nós não temos o direito somente porque o Estado nos concede, e não deixamos de tê-lo se ele o retira. A lei é um instrumento de segurança jurídica; ou seja: serve para diminuir as incertezas quanto às nossas condutas. Se fazemos um contrato, sabemos que vamos receber aquilo que queremos, porque está na lei. Se matamos alguém, sabemos que podemos ser presos por aquilo (está na lei). Se vamos manifestar, sabemos que não podemos ser presas/os (em tese) por isso, porque está na Constituição que temos esse direito. Mas não passa disso: uma tentativa de reduzir as incertezas perante nossas condutas (com muitas brechas, quando se trata de direitos legais conquistados pelo povo, como sabemos). Enfim, acredito que a maioria das/os compas que estão nesta lista sabem bem melhor do que eu que o fato de o Estado proibir algo não tira nossa legitimidade de fazê-lo. E vejam que nem se está discutindo, neste ponto de vista, o que seria a exigência constitucional de se identificar! Em outras palavras: não temos nenhum compromisso com o que a classe dominante diz que podemos fazer.

Penso que nossa reflexão não deve ir por aí, mas, sim, no tocante à tática: ela acrescenta para as lutas? Consegue massificar? Consegue mostrar ao povo quem é nosso inimigo? Nestes pontos, não estou tão certo, ainda, e tenho algumas discordâncias pontuais. Mas lembremos que na ditadura as guerrilhas armadas tinham planos de explodir centrais elétricas, por exemplo, para desestabilizar o regime.

Os atos são dirigidos contra bancos, carros de polícia, mas também contra paradas de ônibus, lixeiras etc. Acho que criticar o movimento porque usam máscara não é a saída, porque, mesmo que não seja o caso de operar na clandestinidade, o uso da máscara ajuda, sim, a proteger de ações judiciais, prisões e outros constrangimentos, além do mais importante: é símbolo de rebeldia! Lembremos o caso das/os zapatistas:https://www.google.com.br/search?q=zapatista&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=TnkvUrywCZDM9gTX9YDQBg&ved=0CEUQsAQ&biw=1920&bih=961. Inclusive, nós, do Levante, durante os escrachos aos torturadores, pichamos a frente de suas residências com os dizerem "Aqui mora um torturador!" Isto também pode ser considerado um vandalismo, legalmente falando.

No mais, acredito que é uma ótima oportunidade para travar uma série de debates: denunciar o terrorismo e o assalto financeiros que os bancos nos fazem, a quem serve a polícia, e, afinal de contas, quem é que se prejudica com um caixa eletrônico/vidraça de banco quebrada? O povo ou sistema bancário? Não podemos cair no coro da direita, criminalizando estas pessoas, porque a proibição do uso de máscaras é, sobretudo, um ataque às classes populares que protestam, uma tentativa de julgamento moral sobre nós, militantes. Devemos, sim, travar um diálogo com essas pessoas, que não são "um caso perdido", mas, sim, revelam, antes de mais nada, um forte desejo de mudança, uma disposição à radicalização, coragem de agir. Se deixarmos o barco passar, bem, perderemos uma boa chance de agregar para as lutas.

Por fim, encaminho, para reflexão, o link: 


Esta ação (Fora Globo) foi feita por nós, do Levante Popular, mas as/os mascarados, quando viram a iniciativa, de pronto se agregaram, colocaram a mão na merda e a jogaram na Globo.

Espero ter contribuído com uma discussão sadia.

Há braços.

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